segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Guia do Antigo - Brasilia

É incrível como a história de certos modelos pode ser tão cativante, misturada aos acontecimentos daquele momento de um país, refletindo tantas decisões de grandes empresas e o próprio costume dos consumidores. Ao relatar sobre um automóvel, nós conseguimos entender quem éramos naquele tempo, como pensávamos, ou ainda como viveram nossos pais ou avós. Com o Volkswagen Brasilia, a matriz brasileira criou uma autêntica evolução do Fusca, não o suficiente para decretar o fim de sua era, mas sim para conviver e fazer história junto dele.


Um dos primeiros automóveis da Vw projetado fora da Alemanha, a Brasilia nasceu em 1973 (lançada cerca de três meses após o Chevette), com a nada fácil missão de substituir o Fusca. Isso ela não conseguiu fazer (a Vw só conseguiu isso com o Gol, e mesmo assim após 1987), mas a Brasilia foi um grande sucesso de vendas no país, chegando a emplacar quase 160 mil carros no ano de 1978, no auge da sua história. Saiu de cena em 1982, quando os esforços da marca estavam todos na família Gol (Voyage, Parati e Saveiro).

Um hatchback moderno, com a consagrada mecânica 1600 a ar do pequeno besouro, teve como maior inspiração a perua Variant. Teve apenas um retoque estético em 1976, no mais foi sempre o mesmo carro simpático de quatro faróis redondos na frente baixa. Quando criança andei muito em uma Brasilia vermelha que pertencia a um tio meu, talvez por isso eu guarde um grande carinho por este automóvel que, embora seja raro de ver hoje em dia, é um dos grandes clássicos da história dos Air Cooler.


A Brasilia era feita no Brasil e exportada para diversos países do mundo, inclusive com uma versão 4 portas (oferecida localmente em 1979). Naquele tempo, e essas são as curiosidades do mundo automotivo, o brasileiro não gostava de carros 4 portas, um costume que só mudou mesmo na metade dos anos 1990. Até então o que você via eram grandes carros só com 2 portas, como os casos clássicos de Santana e a Royale da Ford, uma perua grande, familiar, em que nada poderia fazer tanto sentido como portas traseiras.

Outra grande história envolvendo o modelo, tem relação com uma grande concessionária paulista que fez fama transformando carros nos anos 1970 e 1980. A Dacon é conhecida por diversas mudanças que promovia nos carros que vendia, com o intuito de torna-los exclusivos, num mercado limitado como era o Brasil sem importação oficial. E a lenda que eles criaram com a Brasilia foi a adaptação de um motor 1800 refrigerado à ar, que vinha do Porsche 912. Sim, Brasilia com motor de Porsche, você vê por aqui.


Nos dias atuais o modelo vêm ressurgindo das cinzas e se firmando como um grande clássico dos anos 1970, infelizmente a década de 1990 e os primeiros anos desse século foram ruins para a Brasilia, era comum vê-las maltratadas e caindo aos pedaços pelas ruas. No entanto, quem quisesse uma era extremamente barata em estados encaráveis. Como carro velho virou uma cultura, ainda mais em Curitiba, é bom tomar cuidado pra não comprar carro "impecável" que no fundo precisa de uma restauração completa.

Se falarmos em preço, hoje em dia um bom carro, alvo de uma boa procura, vai sair em torno de R$ 10 mil. Pode parecer caro, mas trata-se de um carro em ritmo de valorização bem acentuado, não é raro encontrar modelos acima de R$ 15 mil. Se a estrutura geral estiver boa e a mecânica bem regulada, você terá apenas prazer em dirigir. É difícil explicar, mas a sensação é realmente boa, diferente dos carrinhos de hoje em dia que são todos iguais.


Por hoje é só, aquele abraço!

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