"Carro não se fabrica, Gurgel, se compra". Essa foi uma das frases que João Gurgel ouviu ao apresentar um projeto de carro popular brasileiro. Engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo e depois pelo General Motors Institute no EUA, fundou sua empresa em 1969 montando Karts e Minicarros, até chegar a efetivamente apresentar o primeiro carro popular genuinamente brasileiro em 1987. Qualquer um que diga que gosta de carros precisa conhecer e com certeza vai admirar essa história. O pequeno Gurgel.
Xavante, esse é o nome do primeiro modelo Gurgel disponível no mercado, também denominado de X10, era um jipe pequeno com a consagrada e muito utilizada mecânica Volkswagen. Entre 1973 e 1987 a Gurgel era mais uma fábrica de automóveis nacionais que utilizavam mecânica de outras marcas, até aí não muda muito em relação à Puma, Bianco, Santa Matilde, etc. Até poderia dizer que esses outros são mais clássicos. Mas a Gurgel não é só isso.
Um dos primeiros fatos que fazem da Gurgel uma marca única e inovadora é o Itaipu, um pequeno carro elétrico projetado pela fábrica em 1974. Isso mesmo, enquanto hoje temos a disposição cerca de 3 ou 4 modelos híbridos no mercado, a Gurgel apresentou seu elétrico em 1974. O que era um pequeno carro essencialmente urbano, que lógico, apresentou algumas limitações dada a tecnologia disponível na época, chegou a ter variações até como minivan. Embora não tenha se consagrado, merece muito destaque pelo pioneirismo.
Outro ponto de destaque da Gurgel é que em 1980 a empresa possuía uma ampla linha de veículos no Brasil, ao todo eram cerca de 10 versões de jipes, pick ups e vans, naquela época denominados como X10, X12 e X15 entre outros. A Gurgel não pode ser considerada um sucesso de vendas, mas estava muito presente entre os anos de 1970 e 1980. Uma empresa com produtos interessantes, sempre pensando na nacionalização dos seus produtos e na visão de uma fábrica brasileira!
Foi em 1984 que chegou ao mercado um grande e imponente Jipe, talvez nos moldes do que hoje chamamos de SUV, o Carajás era um belo jipão com estilo e conforto de gente grande. Em 1986 o X12 passou a se chamar Tocantins, trata-se da última versão do Xavante, o jipinho que deu vida à marca. Mas foi em 1987 que o Gurgel apresentou seu projeto mais icônico, quase 40 anos após a frase que abre esse texto, era apresentado o BR800, um compacto projetado no Brasil, incluindo a parte mecânica, que até hoje é tido como o primeiro carro 100% brasileiro.
O BR800 foi lançado em 1988 e ficou no mercado até 1991, pouco para um carro fruto de tanto sonho e dedicação de João Gurgel, mas naquele tempo começaram também os problemas da empresa, com a liberação das importações, a bomba que implodiu quase todas as marcas nacionais de foras-de-série, pegou em cheio também a Gurgel. Em 1992 foi apresentado o Supermini, como uma evolução do BR800, mas não foi suficiente. O último suspiro foi o Motomachine, mas ainda assim a fábrica fechou as portas no final de 1994.
Hoje em dia encontrar um Gurgel é uma tarefa bem complicada, tão ou mais complicada do que se encontrar bons Puma e outros tantos. Algumas unidades de Carajás e Tocantins podem ser garimpados na internet por preços em torno de R$ 20 mil reais, assim como um bom BR800 pode ser visto na casa dos R$ 15 mil. O Gurgel não é um carro para uso comum, talvez eu não tenha dito isso para outros, mas um Gurgel é um pedaço da história, quem tem ou quer ter um, deve preserva-lo e mostra-lo às novas gerações!
Para um Louco por Carros, o que interessa não é o status ou a aparência. Para um Louco por Carros o que vale é a história e a sensação ao dirigir. E assim, em imagens, um BR800 de 1988, um Carajás de 1984 e um Supermini 1992. Por hoje é só, aquele abraço!
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