Como seres humanos, somos movidos não só pelo que entendemos, mas também pelo que supomos. Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu inveja, quem nunca fez um julgamento precipitado, ou ainda um simples comentário maldoso. A questão é que quando se trata se bens, status e convívio social nem sempre somos boas pessoas. Eu gostaria muito de dizer que é a hora de mudar, de parar de errar quando tratamos o próximo, mas como sei que não é nada fácil, me limito a dizer que é hora de refletir.
Desde criança somos moldados a pensar assim, quando um amigo tinha carrinhos melhores que os seus, quando você via a bicicleta mais cara, que muitas vezes nem era tão melhor assim. E no fim das contas não há uma forma ideal de educar para que seus filhos não sintam nada disso. Claro que não deve ser bom uma criança ouvir da boca dos próprios pais que o outro tem coisas melhores porque fez algo de errado ou ilícito. Mas também não há como explicar a uma criança as injustiças do mundo, não há como explicar o que é falsidade ou puxa-saquismo tão cedo assim. Eu que descobri muita coisa sozinho sou grato aos meus pais por terem me ensinado que uma série de coisas são simplesmente erradas. E por um grande respeito nem sequer questionei, apenas sei que são erradas. Por isso nunca ensine alguém a tirar vantagem, ensine os valores da honestidade e do respeito.
Quando falamos de inveja eu sinto um profundo desânimo. Tudo bem que há situações em que todos devemos concordar que a sorte sorri forte para alguns lados, mas duas coisas devem ser levadas em conta, uma é que a sorte está para todos e eu não conheço ninguém que já não tenha sido o premiado, a outra é que mesmo com uma sorte grande há sempre uma outra parte a se fazer. Aquela história de vêm fácil vai fácil é a desculpa perfeita dos grandes invejosos, tanto dos que tiveram sorte e não tiveram a sabedoria de fazer do limão uma limonada como daqueles que não tem o limão e também não enxergam as oportunidades a sua volta. Ou pior ainda, sentir inveja é admitir o quanto você é fraco e não é capaz de construir sua própria vida. Ninguém está blindado contra esse sentimento, às vezes você é automaticamente atingido por um tipo de inveja ao ver seu amigo chegando naquele carro novo. É normal! Só não deve ser destrutivo, nunca! Quando sentir algo assim pense nas escolhas que você tomou, nas suas próprias conquistas e, se for tão forte assim, no que você precisa fazer para ter um carro igual. Mas o grande mal não pára por aí, no fundo você não quer um carro igual, quer um melhor...
E o esforço invisível? Tudo que cada pessoa fez no íntimo de sua alma, ou nas ações que desempenhou na vida, buscando chegar onde está. Eu sempre penso que ao entrarmos numa faculdade ou universidade somos um pedaço de argila que apenas estava parado, sujeito a ação do tempo. Nessa fase, tão importante da vida de uma pessoa, é que serão desenvolvidos e aperfeiçoados muitos dos valores que essa pessoa tem consigo mas nem sabe. Se você veio de família rica há uma boa possibilidade de continuar no mesmo mundo, mas se sua família, mesmo rica, tinha problemas de relacionamento, é a hora de tentar melhorar o que você vê no seu futuro. Se a situação não era tão boa talvez você desenvolva um apetite pelo dinheiro, mas se as dificuldades sempre foram superadas com esforço e aconchego de um bom ambiente familiar, talvez você queira apenas ter uma vida feliz, e não necessariamente ter tudo o que não teve. Sei lá, já estou pirando um pouco, mas o que quero dizer realmente é que nós não sabemos quais foram os esforços do outro para chegar onde está, por isso não podemos julgar.
Cada um determina o que é importante para si mesmo. Já disse isso muitas vezes, e pode parecer que é só uma deixa para puxar a sardinha para o lado dos carros velhos de novo, mas é verdade, há quem se importe em dizer que o seu carro é zero km, outras pessoas não. Há muitas pessoas que abrem mão de um grande potencial poupador, um grande potencial de investimentos, porque estão sempre comprometidas com a parcela de um automóvel. Estão errados? Talvez não, talvez o bem estar esteja justamente em pagar o ipva mais caro, mas ao mesmo tempo ter aquele carrinho que a cada três ou seis meses pára na concessionária para fazer uma revisão e é mais difícil que essa pessoa fique na mão mesmo. Há pessoas que não se importam em entender de carro, só estão mesmo interessadas em ir e vir, sem graça, sem estilo, bom enfim, já estou criticando, viram como é fácil?
Mas um coisa que eu nunca esquecerei é do esforço da minha mãe em manter uma casa em pé, com meu pai doente (que depois viria a falecer). Lógico que eu tenho grandes lembranças do meu pai, de como ele me levava caminhando para a escola todos os dias, de como passeávamos no parque, eu de bicicleta e ele caminhando, sempre com aquele ar sereno, tranquilo, gostava de fazer brincadeiras, fazia piadas, adorava uma carne assada e uma maionese no domingo. Mas de fato não esquecerei dos problemas e dificuldades que passamos, dos tombos que levei da vida, do assalto que limpou nossa casa quando eu tinha quinze anos, e aquilo realmente me marcou muito, pois no dia seguinte eu acordei e não havia mais som, não havia mais video game, não havia sequer a lamborghini de brinquedo que eu sei que minha mãe comprou com muita economia, até isso não havia mais. Os dias, semanas e meses que seguiram foram extremamente difíceis.
O que eu sei é que todas as pessoas tem uma história, todos tem uma bagagem que ajuda a nos moldar para o futuro. E a forma como agimos, a forma como vamos ver a vida pela janela todas as manhãs é a forma como nosso legado nos ensina. Portanto, eu não acho que inveja e falsidade sejam coisas boas e tento não deixar essas coisas entrarem na minha vida. Mas sabemos que do nosso lado sempre haverão pessoas movidas pela imagem, cujas armas para se manterem "acima" serão nada além de mentiras e uma poderosa habilidade de desejar o mal para os que tentarem aparecer mais que ela.
É, talvez o post como um todo tenha ficado meio pesado, mas é assim, eu acabo escrevendo o que penso e da forma como sinto. E não, não é porque algo de ruim aconteceu, mas sim porque realmente eu acho que é a hora de refletir sobre isso.
E para fechar, o ensaio da semana é uma homenagem a Autolatina (não sabe o que é procure no google). No topo, o Santana da Ford, Versailles. Na sequência, o Verona na versão primo rico, Apollo. E por fim, nada mais a ver com o tema da semana, os carros que foram responsáveis pelo fim da união, os desentendimentos começaram porque a Ford nunca teve o Poiter ou o Logus, que no fim das contas foram as grandes estrelas desse casamento.
E no vídeo da semana, mantendo a minha linha de colocar clássicos do rock para o meu filho desde cedo, escutem, e assistam, o que embalou o sono do meu pequeno enquanto eu escrevia.
Uma das grandes versões de um clássico! Obrigado galera, até mais!